“A música de Pedro Barroso é
transversal e atravessa idades e gerações, sempre plena de significados e
sensibilidade.
É
um autor histórico de uma geração de coragem que lutou, ainda na
clandestinidade, a vida académica e através da sua arte, derramada em tantos
palcos clandestinos e sessões de baladas, ainda antes do 25 de Abril. Foi esse
grupo de gente, artistas muitas vezes esquecidos, jovens universitários dos
anos sessenta e setenta - baladeiros lhes chamavam - que muito contribuiu, pela
canção, para nos devolver os valores imensos da Democracia e a Liberdade. Com
um longo e criativo percurso de mais de quatro décadas, desde a sua estreia no
célebre programa zip zip, em 1969, Pedro Barroso é, hoje por hoje, um dos
últimos sobreviventes dessa geração da resistência, facto que leva muitos a
considerá-lo, pelo estilo criativo, qualidade poética e dizer inconfundível
como o último trovador.
Faz
canções como já não se usa fazer. São actos de sentir e de pensar, momentos de
intensidade e subtileza. Carregadas de palavras cúmplices e memorias de sempre.
E, curiosamente, neste disco histórico prenuncia, simultaneamente, o seu
retiro; mas também, de novo, a sua revolta. Vê-se que o presente momento do
País e do Mundo lhe recorda a mesma amargura dos velhos tempos e das velhas
razões, e a disponibilidade eterna para as causas da Justiça e da Liberdade.
A
sua sensibilidade, disfarçada por um porte imenso, um desprendimento e uma
atitude de retiro e uma quase apaixonada defesa dos valores fundamentais da
intimidade, da poesia e da simplicidade de existência, levam-no a viver, por
norma, afastado dos centros de exibição e glória imediata, onde é notório que
não se revê, nem participa. O seu espaço é a sua imensa capacidade criativa; a
sua cumplicidade com a paixão intensa e a revolta latente sempre. O que
ressalta de uma análise do Mundo ora envolvente de ternura e intimidade, ora
exigente de direitos e justiça.
Ao escuta-lo sentimos nele o lutador que não desiste e estes
cantos da paixão e da revolta são exactamente uma espécie de contabilidade dos
itinerários percorridos e de todos os que ainda haja por percorrer. "
Sem comentários:
Enviar um comentário