6 de dezembro de 2013

Correio Manhã - Março 2009







Correio da Manhã – Como resume os seus 40 anos de carreira?

Pedro Barroso - São 40 anos de emoções e de luta por um país mais culto. Investimos muito em auto-estradas, mas muito pouco em cultura e às vezes é mais importante um artista em cima do palco uma hora do que um embaixador a vida inteira.

CM - Sente-se, então, um embaixador da cultura portuguesa? 

PB - Qualquer artista é responsável por uma parte da imagem de Portugal. Quando uma embaixada política pretende dar uma imagem do país lá fora, devia levar mais artistas e menos empresários. Somos formadores de entusiasmo pelo país.  

CM - E como vai celebrar estes 40 anos? Em palco?

PB - Estou a celebrá-los, comecei numa sexta-feira 13 (Fevereiro), na Figueira do Foz, e correu muito bem. Tenho um público que se revê em mim como um ícone de resistência ao mau gosto que hoje em dia impera. Vou fazer várias cidades por esse país fora, e nas ilhas. 

CM - Serão espectáculos especiais? 

PB - Sim, será uma espécie de revisão geral da matéria dada. Será importante, em especial, para a minha geração, que ajudou a conquistar as liberdades e se consumiu pelas estradas do país a lutar, primeiro, contra a censura, depois pela circulação de cultura pelo país, que hoje ainda continua sedento de cultura, alternativa, porque o que hoje se vende como cultura é mainstream internacional. 

CM - A canção perdeu significado? 

PB - As canções têm de ter uma intenção e hoje não significam nada. Fazem-se só para vender. Eu procuro fazer coisas que fiquem. Recuso-me a fazer letras. Durante algum tempo fi-las, mas agora faço poemas para canções. Sou cada vez mais um poeta de canções. O que faço está para o mainstream como a gastronomia está para o fast-food. É artesanato, eu sou um artesão de canções. 

CM - Ficou conhecido como autor de música popular... 

PB - Eu não faço música popular. Durante anos era forçado pelas editoras a fazê-lo – ‘faz lá uma chula’ –, e fazia. Mas desde há 20 anos, nada. O que faço hoje exige que se saiba escutar. A canção quando tem alma não se imita. 

CM - Sente-se cantor de intervenção? 


PB - Sou cada vez mais um cantor de intervenção. É com o conhecimento que vamos ter de fazer a revolução. Não é pelas armas, é pela cultura. Portugal está pobre, indigente em termos culturais, e isso preocupa-me muito, porque é por aí (cultura) que também temos de construir o futuro. 








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