1 de setembro de 2013

A Nossa Rádio





… destinado a ser professor, tudo começou a tornar-se diferente quando o menino, embora bom aluno, demorava demasiado tempo contemplando o mar. Minucioso e atento, ficava pensativo olhando os casos, as paisagens e as gentes e escrevia tudo isso na memória do sentir, que é a arca onde se guardam as coisas cá de dentro.

Muitos anos depois, nunca se fez gente como deve ser. Diz na cara o que não deve; habita refugiado no campo, fora dos locais recomendados; iconoclasta e truculento, vira-se com facilidade e ferocidade contra as mais palacianas injustiças; aos costumes diz o mínimo; intratável e teimoso; gordo, forte, generoso e intempestivo; gosta de sujar as mãos na terra e no barro; maneja a escrita perigosamente, como arma, como chama; e anda por aí, sem tino. Reformado prematuro, andarilho do sol e da amizade, percorre espaços infinitos e reconta. Reconta tudo, como se fosse a primeira vez.
         
     PEDRO BARROSO (in "Cantos Falados", 1996)







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